terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

SOU

“Para os que me perguntam, por que é que sou tão calado?”

Sou o badalo que bate no alto,
Sou o mendigo no leito da vala,
Sou o olhar cético do ateu arauto,
Sou o tilintar sísmico do sino que estala.
Sou do nada que vejo um tudo que posso ser,
Sou o iminente tropeço da vida,
Sou a vaga ilusão sem crer,
Sou o alto clero cansando na subida.
Sou a mídia de social à esportiva,
Sou o astro que de rei nem coroa tem,
Sou casamata para fuga furtiva,
Sou mentira maldita d’outrem.
Sou o descarado copista,
Sou o inanimado de minuto diário,
Sou o aprendiz contista,
Sou o poeta sem esmero.
Sou manteiga no pão de centeio,
“Sou o ínicio, o fim e o meio”

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Campeã

Durante anos viveu a expectativa de enfim enfrentar o pior dos adversários.
Viu por muitas vezes passar muito próximo, mas nunca pode encarar sem medo e com autêntica vontade aquele implacável inimigo.

Anunciada foi uma semana antes o incrível embate.

Preparou-se mentalmente para que chagada a hora, não houvesse hesitação. Queria estar pleno, ser perfeito em todos os movimentos e não deixar dúvidas sobre quem merecia ser o vencedor.

Contou cada segundo antes do dito dia, exercitou-se como se nunca tivesse tido chance tão grande em toda a vida, na verdade realmente não havia tido a chance real de concretizar desafio dessa magnitude.

Adoraria que todos os seus amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos pudessem vê-lo naquele dia, mas sabia que infelizmente não seria possível. O espaço para o ringue que estava sendo montado não cabia fisicamente todos.

Calou-se no dia que antecedia a peleja, queria apenas estar só, concentrado e meditando. Sem sombras nem dúvidas era ali que se sentia forte, no canto mais escuro da mente habitava o que ele sempre buscou, a dita coragem sempre esteve ali, mas adormecida.

Passaram as horas do dia e chegou enfim, O DIA. Luzes se apagam, vem andando ao som de música cantada em linguagem de sinais, vem de novo do silêncio, acenando ao léu, reverberando a confiança de que não deixaria a chance passar em vão, varia valer a pensa todo o tempo de preparação.

Lá estava correndo em volta do ringue para se aquecer, parecia uma fera esperando sua presa dentro da jaula, não sentia o mínimo nervoso pela demora na entrada do adversário, sentia apenas que esse morria de medo de enfrentar alguém tão visivelmente seguro. Algum tempo depois veio o antigo temido inimigo, pequeno e aparentemente fraco, caminhava de cabeça baixa, arrastava-se aos poucos, não aparentava quere entrar naquela briga, pois sabia que não teria a menor chance.

Não havia mais jeito, o juiz acena para os dois que não se olham. Começa a luta, olha para o canto escuro e vê novamente aquela tal coragem maior, ela grita na torcida, domina o som ambiente do local e cresce a cada segundo. de repente está tão grande que já toma toda a platéia, ambos os lutadores param antes de começar a lutar, apenas observam o crescimento da coragem, adiram-se com a coragem da coragem em mostrar-se tanto, sem medo de julgamentos, sem pensar que seria noticia como a aparecida da luta, não era um evento seu e mesmo assim roubava toda a atenção.

A coragem tomou conta de todo o ambiente, não sobrou espaço no ringue para os lutadores, nem sóbrio e pensador, raciocínio. Nem o implacável e frio, medo. A coragem se apossando de boa parte do raciocínio percebeu que ela pode ter parte do medo para crescer, que na luz mostra-se maior que todos e que não adiantaria ter luta, pois mesmo que saísse um vencedor, no final ela venceria desse. A coragem que perfeita foi ao sair da escuridão. Ganhou o coração e dominou a mente. Racionalmente medrosa. Grandiosa sabedora dos defeitos. Cresceu a ponto de reinar no corpo imperfeito, palco da luta do século que sequer aconteceu.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cume da vida

Rafael Ribeiro Silva

E vai subindo. Sobe por sobre anos que vão passando sem ver.
Subindo. Sobe-se pelo tempo que gira lento sem crer.
Sobe. Buscando o cume da vida,
escalada de pedras, dificil subida.

Subiu olhando. Olha de longe lá para baixo e viu o passado sumir.
Olhando. Olhou-se novo errando tudo e não deixando sentir.
Olha. Buscando acertos olha pra cima,
não vê o fim, não sabe onde termina.

Subiu entendendo. Entende que a neblina forte deixou o passado pra trás.
Entendendo. Entende-se mais claro e forte, erros passados jamais.
Entende. Buscando a mesma com mais certeza,
Sobe com a vista lembrada daquela beleza.

Subiu procurando. Procura a cima de sua cabeça a companhia ideal.
Procurando. Procura-se dentre a neblina uma luz forte, um sinal.
Procura. Buscando ver que não sumiu,
que está por lá, que não partiu.

Subiu encontrando. Encontra ao lado um ponto claro, apoio forte.
Encontrando. Encontra-se por que procurou ou por pura sorte?
Encontra. Buscando alguém na breve parada,
não desiste, viver sem tentar não leva a nada.

Subiu vivendo. Vive da vista clara de escalar novamente.
Vivendo. Vive-se da ida contra o fluxo da torrente.
Viva. Buscando aquela que não tem idade,
encontra bem onde deixou, sua felicidade.

E nem que escale a vida toda
Subindo de minutos os ponterios
Levaria toda a vida
Pra entender os desencontros.

sábado, 20 de agosto de 2011

Carta - Pai

 
...E nascemos...
No inicio de tudo, antes de ter-se feito a luz já tínhamos um modelo. Uma personalidade a seguir, um alguém com defeitos que não sabíamos, mas teríamos que inovar, ajustar finamente para vestir essa ‘coisa toda’.
Inovar é adotar um modelo de conduta muito antes dele se tornar indispensável para o mundo que sonhamos.
E enfim nascemos...

...E crescemos...
Vivendo e vendo que realmente existe pouco a aprimorar, aprendendo que é simples a transformação e crescendo... e crescendo...
Engatinhamos olhando para o alto, buscando o espelho. Andamos olhando para o alto, buscando o espelho. Corremos olhando para o alto, buscando o espelho. Voltamos a andar já olhando pra frente, ainda buscando o reflexo do espelho.
Nesses tantos passos vão-se percebendo as mudanças, novos seres foram nascendo com o tempo e crescendo apoiados naquele modelo. Inovando a imagem do espelho, tornando-se prontos pra serem espelhos um dia.
Mudamos muito, aprendemos demais, mas foi apenas aperfeiçoamento e não criação. Não somos um novo completo, apenas reflexo desse espelho.
Estamos presos ao modelo, somos parte dele.
O melhor espelho é um velho amigo.


Um excelente dia dos Pais querido espelho;
Da família que só cresce, a sua.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

SEM TÍTULO

E não passa! Só sobe!
Bate, vem forte, tortura, massacra!
Não passa, só sobe!
Uma após outra vêm surrando com urros.

Testemunhas, vários são.
vários sentem ao longe.
Bela cena parece,
lindos carinhos, ténue sussurro.

Um, que só, somente são grãos.
Juntos, mas sós, sujos grãos.
Outro, que só, somente são gotas.
Juntas, mas sós, limpas gotas.

No encontrar das gotas,
salgadas por grãos.
Espuma d’água,
desnível do chão.

Água vem em ondas,
bate forte na areia.
Brisa leve da noite,
que só a lua norteia.

Bate forte maré cheia,
briga brava, mar e areia.
Que não passa,
que massacra.

Mas que juntos levam à praia.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

MONSTROS LITERAIS


Esse muro branco fingido, olha por dentre os furos de um tiro que coloquei de longe, com calma, carinho, um toque leve de aço forte. Livra a cor dos olhos teus que olham por tal furo em busca de um olhar, nem que distante, mas que mire o mesmo que tu, que ligue depressa a linha do Equador ao dito Meridiano de um senhor cujo nome recuso mencionar.
Nem me sei se por dizer-te em prosa meio que rimada, tentar levar-te pra um mundo de sonhos e verdades inventadas, seguir sonhando viver pra todo o sempre um tanto bem feliz, bem maior que música de gente grande. Se pegar na minha mão te voo comigo por um céu verde casa, com estrelas que brilham brancas e passarinhos azuis de um Royal sem igual, um marinho bonitinho.
Se vistes aqueles monstros infantis que um dia lhe contei, se fostes atrás para ver d'onde vinham, com certeza percebeu que tudo o que ouviu era verdade e que os tais monstros medonhos de ver, eram simples e mais sonhos que usei pra perto de ti chegar. Foram eles que lhe mostravam que na rede desse ser podia sonhar sem medo, que brasileiro de verdade não desistiria e que essa 'luta' tinha uma real motivo. Que veja nos monstros o que realmente são, que sinta neles a real extensão do que senti nesse tempo, peço-lhe encarecidamente que disperse a conversa ouvida da mente, nada mais terá graça se souber sempre que a surpresa é monstruosa e que sim, somos todos enganados por sonhos de uns e outros.

Se não queres ler de monstros criados por um doutor metido à rei, despreze-me, jogue-me fora intacto e sem amasso. Dê-me a chance de ser lido por um monstro desempregado, quem sabe assim consigo mais um pra trabalhos agradabilíssimos e muito bem remunerados. Viver de sonhos monstruosos, com monstros literais.

sábado, 19 de setembro de 2009

Concurso de contos - que vença a melhor

A Biblia
Dany Gomes


- CHA-VEI-RO. CHA-VES-NA-HORA. LA-VAN-DE-RI-A. PA-DA-RI-A.

Conte até vinte e oito. Um, dois, três, quatro...

- PRE-FE-REN-CI-AL

Paciência, ele está aprendendo, respire fundo.

- A-BER-TO-24-HO-RAS.

- Puxa, você está ficando craque!

- E não é?

- Cada vez melhor! Agora, me conte, o que vamos fazer nesse fim de semana?

O negócio era puxar papo. Qualquer assunto que fizesse ele conversar ao invés de ficar soletrando tudo que via na frente.

Ela sabia que tinha que ter paciência, que ele estava fazendo grandes avanços. Mas aquela falação toda no seu ouvido, enquanto o trânsito estava praticamente parado estava enlouquecendo-a.

- Papai, me conte de novo quando foi que decidiu aprender a ler.

Era preferível ouvir aquela história pela enésima vez do que o eterno soletrar.

- Ah, minha filha, deixa eu te contar tudinho!!

- Quando sua mãe era viva, toda noite a gente sentava na frente da lareira, depois que a louça do jantar estava lavada e guardada. Aí ela colocava a Bíblia no colo, abria numa página qualquer e lia um trecho para mim. Eu ficava encantado de ver como ela era esperta! E a gente conversava sobre aquele versículo, e ela sempre me explicava de um jeito que era fácil de entender. Depois que ela me deixou aqui sozinho, você acredita que o que eu mais senti falta foi dessa hora de ler a Bíblia? Pois então, depois de um tempo sofrendo de tanto lembrar, pensei que podia aprender a ler, e aí eu mesmo ia poder ler. Não vai ser a mesma coisa de ficar ouvindo aquela voz dela, mas é um jeito, né?

- É pai, foi uma ótima ideia sua, e muito legal o senhor fazer isso a essa altura da vida. É muita linda essa sua história.

- E não é?

Pensando na pequeneza da sua falta de paciência diante da grandeza daquela história, deu um longo suspiro, enquanto ouvia;

- FO-TO-GRA-FI-AS-EM-CIN-CO-MI-NU-TOS....