quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Campeã

Durante anos viveu a expectativa de enfim enfrentar o pior dos adversários.
Viu por muitas vezes passar muito próximo, mas nunca pode encarar sem medo e com autêntica vontade aquele implacável inimigo.

Anunciada foi uma semana antes o incrível embate.

Preparou-se mentalmente para que chagada a hora, não houvesse hesitação. Queria estar pleno, ser perfeito em todos os movimentos e não deixar dúvidas sobre quem merecia ser o vencedor.

Contou cada segundo antes do dito dia, exercitou-se como se nunca tivesse tido chance tão grande em toda a vida, na verdade realmente não havia tido a chance real de concretizar desafio dessa magnitude.

Adoraria que todos os seus amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos pudessem vê-lo naquele dia, mas sabia que infelizmente não seria possível. O espaço para o ringue que estava sendo montado não cabia fisicamente todos.

Calou-se no dia que antecedia a peleja, queria apenas estar só, concentrado e meditando. Sem sombras nem dúvidas era ali que se sentia forte, no canto mais escuro da mente habitava o que ele sempre buscou, a dita coragem sempre esteve ali, mas adormecida.

Passaram as horas do dia e chegou enfim, O DIA. Luzes se apagam, vem andando ao som de música cantada em linguagem de sinais, vem de novo do silêncio, acenando ao léu, reverberando a confiança de que não deixaria a chance passar em vão, varia valer a pensa todo o tempo de preparação.

Lá estava correndo em volta do ringue para se aquecer, parecia uma fera esperando sua presa dentro da jaula, não sentia o mínimo nervoso pela demora na entrada do adversário, sentia apenas que esse morria de medo de enfrentar alguém tão visivelmente seguro. Algum tempo depois veio o antigo temido inimigo, pequeno e aparentemente fraco, caminhava de cabeça baixa, arrastava-se aos poucos, não aparentava quere entrar naquela briga, pois sabia que não teria a menor chance.

Não havia mais jeito, o juiz acena para os dois que não se olham. Começa a luta, olha para o canto escuro e vê novamente aquela tal coragem maior, ela grita na torcida, domina o som ambiente do local e cresce a cada segundo. de repente está tão grande que já toma toda a platéia, ambos os lutadores param antes de começar a lutar, apenas observam o crescimento da coragem, adiram-se com a coragem da coragem em mostrar-se tanto, sem medo de julgamentos, sem pensar que seria noticia como a aparecida da luta, não era um evento seu e mesmo assim roubava toda a atenção.

A coragem tomou conta de todo o ambiente, não sobrou espaço no ringue para os lutadores, nem sóbrio e pensador, raciocínio. Nem o implacável e frio, medo. A coragem se apossando de boa parte do raciocínio percebeu que ela pode ter parte do medo para crescer, que na luz mostra-se maior que todos e que não adiantaria ter luta, pois mesmo que saísse um vencedor, no final ela venceria desse. A coragem que perfeita foi ao sair da escuridão. Ganhou o coração e dominou a mente. Racionalmente medrosa. Grandiosa sabedora dos defeitos. Cresceu a ponto de reinar no corpo imperfeito, palco da luta do século que sequer aconteceu.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cume da vida

Rafael Ribeiro Silva

E vai subindo. Sobe por sobre anos que vão passando sem ver.
Subindo. Sobe-se pelo tempo que gira lento sem crer.
Sobe. Buscando o cume da vida,
escalada de pedras, dificil subida.

Subiu olhando. Olha de longe lá para baixo e viu o passado sumir.
Olhando. Olhou-se novo errando tudo e não deixando sentir.
Olha. Buscando acertos olha pra cima,
não vê o fim, não sabe onde termina.

Subiu entendendo. Entende que a neblina forte deixou o passado pra trás.
Entendendo. Entende-se mais claro e forte, erros passados jamais.
Entende. Buscando a mesma com mais certeza,
Sobe com a vista lembrada daquela beleza.

Subiu procurando. Procura a cima de sua cabeça a companhia ideal.
Procurando. Procura-se dentre a neblina uma luz forte, um sinal.
Procura. Buscando ver que não sumiu,
que está por lá, que não partiu.

Subiu encontrando. Encontra ao lado um ponto claro, apoio forte.
Encontrando. Encontra-se por que procurou ou por pura sorte?
Encontra. Buscando alguém na breve parada,
não desiste, viver sem tentar não leva a nada.

Subiu vivendo. Vive da vista clara de escalar novamente.
Vivendo. Vive-se da ida contra o fluxo da torrente.
Viva. Buscando aquela que não tem idade,
encontra bem onde deixou, sua felicidade.

E nem que escale a vida toda
Subindo de minutos os ponterios
Levaria toda a vida
Pra entender os desencontros.